A
partir das discussões ocorridas nos incontáveis encontros mundiais sobre o meio
ambiente, estabeleceu-se como prioridade, desde 1987, o desenvolvimento
sustentável, a partir do Relatório Brundtland da Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
(NAÇÕES UNIDAS, 1987 apud SCHENBERG,
2010). Sendo este constituído por medidas adequadas de se trabalhar com os
recursos que a natureza oferece, aliando desenvolvimento econômico e
preservação do meio ambiente. No entanto, para tornar real a ideia do
desenvolvimento sustentável, é preciso aperfeiçoar o uso dos recursos,
adquirindo uma postura que alia o progresso à sustentabilidade. Para tanto se
faz necessário o desenvolvimento e a utilização de novas tecnologias. Os
conhecimentos biotecnológicos desenvolvidos até o momento mostram-se como
alternativas viáveis para a aplicabilidade do desenvolvimento sustentável,
principalmente no que diz respeito à redução da poluição ambiental e a geração
de energia.
Sobre
a poluição ambiental, mais especificamente a problemática do lixo, intimamente
ligada aos grandes centros urbanos que, por consumirem exacerbadamente os
produtos que lhes são oferecidos diariamente, acabam por gerar uma enorme
quantidade de lixo que não tem destino certo. Além da quantidade, o tipo de
lixo (em grande parte produtos plásticos) contribui para agravamento do
problema, uma vez que o plástico é um material de difícil decomposição. A
Biotecnologia mostra-nos uma alternativa. Utilizando-se de técnicas de
clonagem, cultivam-se em laboratório bactérias capazes de produzir biopolímeros
a partir da sacarose, que podem ser usados para a produção de sacolas
biodegradáveis. (SCHENBERG, 2010). Esta é uma alternativa totalmente aplicável
e viável do ponto vista tecnológico e ambiental, mas infelizmente ainda inviável
economicamente. Os plásticos de origem petroquímica são bem mais baratos. Em um
futuro próximo, quando o petróleo se tornar escasso, provavelmente esta venha a
ser a alternativa para continuarmos a usufruir de materiais plásticos.
A
geração de energia é outro setor onde a biotecnologia pode atuar positivamente,
tanto do ponto de vista econômico, quanto ambiental. Como já citado, o petróleo
é um recurso que tende a se tornar cada vez mais escasso. Sendo ele a principal
fonte de combustível da atualidade, e uma fonte de energia não renovável, a
previsão é que seus derivados tornem-se cada vez mais caros. Sem falar nos
prejuízos que a queima de combustíveis fósseis causa ao meio ambiente,
contaminando o ar, agravando o efeito estufa e, consequentemente as mudanças climáticas.
Logo se faz necessário pensar em energias limpas e renováveis, como os
biocombustíveis. A produção de etanol, por exemplo, tem dado bons resultados. O
etanol é produzido a partir de um processo de fermentação realizado por seres
vivos, as leveduras Saccharomyces
cerevisiae. É por tanto um processo bitecnológico. Sendo este utilizado
pelo ser humano desde as civilizações mais remotas no preparo de bebidas
alcoólicas e alimentos. Hoje, devido aos avanços tecnológicos, a produção do
etanol se tornou ainda mais eficiente. Criaram-se, por exemplo, mecanismos para
evitar a proliferação de outros microrganismos durante a fermentação, como no
caso de bactérias, que acabam por competir com as leveduras pelo alimento
disponível, diminuindo a eficiência na produção do etanol. (SCHENBERG, 2010).
Apesar
dos inúmeros aspectos positivos que podem ser citados sobre a relação entre
Biotecnologia e Desenvolvimento Sustentável, ainda há muitas discussões a serem
realizadas em prol de um conhecimento mais abrangente sobre as consequências,
sociais, ambientais e econômicas do uso de certas tecnologias. Podemos citar
como um dos assuntos mais polêmicos a utilização de transgênicos na produção
agrícola. Segundo Bertoldi (2015) “alguns receiam o uso da biotecnologia agrícola
em grau elevado, pois isso poderia gerar a excessiva homogeneização genética.”
O que significa plantações de espécimes geneticamente muito semelhantes. Tal
fator pode ser uma “porta de entrada” para o desenvolvimento de superpragas, o
que poderia levar a extinção de muitas espécies. Outro ponto discutido é sobre
os riscos que o consumo de alimentos transgênicos pode trazer à saúde. Especula-se
que, em longo prazo, os alimentos geneticamente modificados podem ocasionar
diversos problemas de saúde, como por exemplo, o câncer. Estudos recentes com
ratos de laboratório alimentados durante certo período com alimentos
transgênicos, demostraram o aumento da ocorrência de tumores cancerígenos
nesses animais.
A
partir das discussões levantadas sobre as vantagens e desvantagens do uso de
algumas biotecnologias para um desenvolvimento sustentável, pode-se compreender
que existem muitas técnicas que utilizam seres vivos, já comprovadas e
plenamente aplicáveis à realidade. No entanto o uso de algumas delas ainda é
questionável, pois há indícios e indagações de riscos futuros ao meio ambiente
e à saúde humana. Por tanto se faz necessário estudos, em longo prazo, de
algumas dessas tecnologias, para que no futuro a humanidade e o meio ambiente
possam desfrutar de seus benefícios.
REFERÊNCIAS
BERTOLDI,
M. R. Biotecnologia moderna e
desenvolvimento humano sustentável: uma composição possível. Araucaria.
Revista Iberoamericana de Filosofía, Política y Humanidades, año 17, nº 33, Pp.
211-227. Primer semestre de 2015.
SCHENBERG,
A. C. G. Biotecnologia e Desenvolvimento
Sustentável. Revista Estudos Avançados 24 (70), 2010.
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